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Foto do escritorGabriela Azevedo

O "dream job" existe mesmo?

Atualizado: 1 de jun. de 2020

Na semana passada, ao perguntar a um adolescente, que eu atendia em orientação vocacional, quem ele admirava profissionalmente e por qual motivo, ele não hesitou em responder "meus professores do colégio".


Perguntei a razão e ele disse: "vejo o quanto eles conhecem e quanto gostam de compartilhar o que sabem. Quando tenho uma dúvida, eles são entusiasmados para me responder e despertam em mim a vontade de querer saber mais. Eles são encantados com as suas carreiras". 



Em quase vinte anos de atuação, essa foi a primeira vez que ouvi uma jovem trazendo os professores como referência de realização profissional, foi uma grata e admirável surpresa.

Mas essa colocação me surpreendeu também pelo critério de realização. Os professores são encantados por suas carreiras! E esse jovem de apenas 17 anos lançou um questionamento para profissionais mais maduros, quantos de nós ainda se sentem encantados por suas carreiras? O tão sonhado "dream job" existe mesmo? 


Até que ponto a remuneração é suficiente?


Muita gente acredita que a realização profissional só existe se "seguir a intuição" ou se "ganhar muito dinheiro", e se sente frustrada quando não se encaixa nesses critérios. Dados revelam que a remuneração é importante, até porque todos nós temos responsabilidades financeiras, mas não é suficiente. 

Uma pesquisa realizada por Daniel Kahneman e Angus Deaton* evidenciou que a remuneração contribui para melhoria do padrão de vida, mas não para o bem-estar emocional. Após um patamar de remuneração, as novas entradas financeiras elevam muito pouco a satisfação com o trabalho.


A seguir a intuição dá certo?


Então, como nos reconectar aos nossos valores e propósitos profissionais? Constantemente lemos em livros, artigos e posts que realização profissional está diretamente ligada à sua paixão, frases como "trabalhe com aquilo que você ama", "siga seu instinto" são frequentes. Mas muita gente não consegue enxergar paixão no que faz, tampouco percebe a tal intuição, e se sente desconfortável ou até mesmo inadequada frente a esses conselhos. 


Cabe aqui um ponto de atenção. Seguir a paixão ou a intuição não são sinônimos de realização profissional. Pesquisas mostram que as pessoas que se dizem realizadas em seus trabalhos são aquelas que se sentem envolvidas com seu cotidiano. Esse envolvimento está refletido em alguns aspectos:


1. trabalhar com aquilo que você sabe fazer bem;

2. ter variedade de atividades;

3. receber retornos por suas entregas;

4. estar inserido em um ambiente colaborativo;

5. ter uma remuneração satisfatória; 

6. exercer uma atividade que case com seu valores pessoais e estilo de vida. 


A busca pelo encantamento profissional não é intuitiva, ela requer reflexões aprofundadas e mudanças planejadas. 


*Gabriela Azevedo é psicóloga pela PUC-SP, mestre pela USP e especialista em desenvolvimento socioemocional e programas de carreira.


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