Entenda esta nova forma de cyberbullying e suas consequências.
Você já ouviu falar em exposed? Eu não conhecia a expressão até alguns pacientes passarem por algo semelhante. Mas exatamente o que é isso? O exposed é a exposição de uma pessoa na rede social. Essa tendência surgiu para expor famosos que tinham comportamentos duvidosos, mas agora tem sido também uma prática comum entre os adolescentes.
Para entender melhor o que é, imagine duas amigas próximas, que trocam mensagens confidenciando inseguranças e medos. Em um determinado momento, elas tem um conflito e, ao invés de conversarem, uma delas faz print de trechos das conversas e monta um vídeo que é um verdadeiro dossiê das angústias da outra. Esse vídeo é postado na rede social em uma conta criada anonimamente.
As dores mais íntimas da adolescente agora são públicas. E assim se esvai a sua privacidade e a jovem é nocauteada pelo constrangimento e desrespeito. O mesmo acontece com os meninos.
Há formas menos elaboradas de exposed, como simplesmente viralizar uma tela de conversa, ou um áudio encaminhado que passa a circular entre os amigos. De uma forma ou de outra, a exposição se torna inevitável e as consequências dela também.
Exposed é Cyberbullying
Exposed é uma forma de cyberbullying, e como toda forma de bullying tem como intenção machucar o outro emocionalmente. Mas o cibernético é ainda mais estressante para a vítima, já que trata de uma exposição pública e incontrolável. Além de não haver limites de visualizações, as postagens podem ainda ser anônimas, encorajando pessoas que presencialmente não praticariam o bullying. Outro agravante é a difícil remoção dos conteúdos virtuais e os algoritmos que podem alavancar a exposição.
Quais são as consequências?
Exposed, fotos viralizadas, áudios reencaminhados, comentários ácidos em redes sociais tocam diretamente a autoimagem do adolescente.
A adolescência é uma fase em que os jovens querem e precisam ser parte da turma, mas ao sofrerem cyberbullying, eles têm sua autoimagem desconstruída perante todos e sua segurança, que ainda estava em construção, rapidamente desaparece. Como consequência, o jovem pode vir a desenvolver um quadro de depressão, crises de ansiedade, mutilações, transtornos alimentares e até mesmo tentativas de suicídio.
Como ajudar os nossos jovens?
De acordo com o portal ReachOut, apenas 1 em cada 10 adolescentes conta para seus pais sobre situações de cyberbullying vividas. O silêncio acontece por medo de não serem acreditados, por estarem envergonhados ou com receio de terem o problema minimizado pelos pais. Mas é possível ajudá-los.
Ao perceber que seu filho não está bem, que anda calado, incentive-o a falar e queira genuinamente ouvi-lo. A partir do momento em que ele compartilhar com você a exposição sofrida, acolha, não busque por justificativas, pois não há nada que possa justificar a humilhação vivida.
Assegure que você quer ajudá-lo a superar a situação. E mesmo que eventualmente não pareça aos seus olhos nada muito sério, para o adolescente é uma situação crítica e ele precisa que seja validada por você.
Se perceber que o adolescente apresentar traços depressivos ou de ansiedade, busque ajuda profissional. A sensação de humilhação e constrangimento vivenciados por ele podem deixar sequelas importantes em sua saúde emocional.
Pensando em prevenção
É importante também pensarmos em como prevenir situações de Cyberbullying.
Hoje é muito comum adolescentes falarem com outros jovens via Instagram, Tik Tok e outros aplicativos que pouco conhecemos. Então converse com seus filhos e alerte sempre sobre o risco de falarem com pessoas que ainda não conhecem pessoalmente, pois não sabemos de fato quem está do outro lado da tela. Lembrem a eles que devem evitar passar informações pessoais, familiares e fotos. Tenho relatos de consultório de adolescentes que descobriram estar conversando com adultos, ou com perfis fakes criados por colegas da escola para mera "zoação".
Estimule seu filho a trocar confidências com amigos pessoalmente, deixando para mensagens de whatsapp apenas conversas triviais. Lembrem que hoje o que os olhos não veem, a amiga faz print!
Oriente seu filho a não compartilhar imagens que ele não gostaria que viralizassem, pois rapidamente perde-se o controle de quem as vê. Ainda que alguns aplicativos já limitem tempo e quantidade de visualizações, a captura de tela as eternizam.
Engaje seu filho em atividades offline, quanto mais tempo eles estiverem envolvidos em atividades reais, menor o risco de exposições virtuais.
Como último ponto e não menos importante, a melhor forma de prevenção é ensinarmos nossos filhos o constante exercício da empatia e incentivá-los a resolver conflitos por meio do diálogo. Podemos ser duros com os problemas, com as pessoas seremos sempre gentis.
Gabriela Azevedo é psicóloga pela PUC-SP, atua clinicamente e como orientadora de carreira, tem mestrado em Comportamento do Adolescente pela USP.
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