Lara namorava Lucas, os dois adolescentes de 16 anos. Durante o namoro, com frequência Lara mandava para ele nudes, as famosas fotos sem roupa. A primeira vez que Lucas pediu um nude, Lara ficou constrangida, mas ele insistiu e ela mandou. Lucas adorou. Com o tempo, Lara acabou ficando à vontade em tirar suas selfies e os nudes passaram a ser constantes nas trocas de mensagens. Alguns meses depois, o namoro terminou. Não demorou para as fotos de Lara estarem circulando nos grupos de WhatsApp de Lucas.
A história acima tem se tornado comum e se repetido diversas vezes com roteiros muito parecidos com este acima e com consequências importantes tanto para as meninas como para os meninos. Inicia-se um emaranhado de constrangimentos e arrependimentos. E se esta situação é tão frequente e suas consequências são tão embaraçosas, por que ela continua acontecendo?

O vício pela perfeição
Meninas e mulheres têm convivido com a busca pela perfeição. Desde pequenas, meninas já presenciam suas mães “brigando” com o corpo e com o rosto. E as observam recorrendo à medicina, a procedimentos estéticos, para corrigir o que, aos seus olhos, não está correto.
Sem querer, filhas aprendem que a busca pela perfeição exige muita energia. Mas esse esforço é em vão, pois, como a psicóloga canadense Marion Woodman escreveu em uma de suas obras: “a perfeição pertence apenas aos deuses. A completude é o máximo que o ser humano pode aspirar (sentir-nos completos como somos). Movimentar-se em direção à perfeição é movimentar-se para
fora da vida, ou, o que é pior, nunca entrar nela de fato”.
Esse movimento para fora da vida de que Woodman fala, pode se iniciar em casa, mas é fomentado também pelas redes sociais. Inspirado em famosas e influenciadores digitais, que diariamente compartilham fotos provocativas. As meninas repetem o que veem, postando selfies com bicos, olhares e poses.
As adolescentes que crescem neste ambiente de “espelho-espelho meu” e passam a tratar seus corpos como matérias brutas a serem esculpidas, acabam por se despersonificar. E ao ficarem distantes de si, do que sentem, compartilhar nudes passa a parecer algo razoável: é só escolher bem a pose, lembrar de aplicar o filtro, corrigir as imperfeições e enviar. E é exatamente neste instante que a privacidade se esvai.
Orientação a filhas e filhos
Embora as meninas sejam as que têm sofrido mais com a circulação de nudes, os meninos também estão expostos. Como ajudá-los? Aconselhe sua filha e seu filho, a não tirarem fotos de si mesmo sem roupas, ou quase sem roupas. Oriente-os a não pedirem fotos aos outros e, caso receberem, deletarem sem passar adiante. Peçam para que se coloquem no lugar do outro e reflitam sobre as consequências para todos.
Se a pessoa com que estão saindo, insistir, que seus filhos insistam também dizendo não. Expliquem a eles que não existe privacidade para fotos enviadas no ambiente virtual. Qualquer imagem compartilhada, pode ser repassada.
Gabriela Azevedo é psicóloga com mestrado em Comportamento do Adolescente, psicoterapeuta de adultos e adolescentes, e especialista em programas de carreira.
www.gabrielaazevedo.com.br
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