Adolescentes estão se conectando e conhecendo pessoas pelo Instagram, Tik Tok e servidores do Discord. Compreender e ajudar seu filho a lidar com essas interações se torna não só imprescindível, como inevitável.
Nós adultos, crescemos recebendo a orientação de nossos pais para nunca falarmos com estranhos. E ensinamos isso a nossos filhos: não fale com estranho. Parece simples até que nos deparamos com o universo virtual e o “falar com desconhecido” passar ser algo natural para os adolescentes. E mais, para eles o desconhecido não causa nenhum estranhamento.
O adolescer é sobre se relacionar com o mundo e estar inserido em diversos grupos, conhecer pessoas e se sentir pertencendo. As redes sociais, como o próprio nome diz, é mais um ambiente de interação e troca.
Como acontece a interação digital?
No Instagram, assim como no Tik Tok, o adolescente segue amigos de amigos ou famosos. E, veja bem, o famoso aqui não tem nada a ver com a nossa concepção de famoso, como um ator de novela global, um cantor ou um apresentador de televisão. Os famosos são aqueles que postam vídeos e têm um número grande de seguidores. E ao contrário das nossas celebridades, os famosos dos adolescentes são acessíveis e interagem com seus fãs.
Agora, vamos tentar entender um pouco como é a dinâmica dessa interação. Imagine que você é um adolescente e passou a seguir amigos de amigos, um famoso ou um mero desconhecido (sim, meros desconhecidos também são seguidos). Primeiramente você vai observar os comentários nas fotos e vídeos da pessoa, olha quem já comentou, busca ver se há alguma conexão em comum. Depois você presta atenção aos vídeos que a pessoa posta, conteúdos e trends. Daí, se essa pessoa realmente estiver despertando seu interesse, será o momento de reagir a algum story dela e torcer para ter uma resposta. Se o interesse for recíproco, o caminho está aberto para conversas por mensagens e, eventualmente, um encontro.
No universo gamer, as interações acontecem frequentemente pelos servidores criados no Discord, nos quais pessoas diversas com interesses em comum se conectam. A partir daí tem início um diálogo intenso no grupo ou individual. A abordagem é diferente, mas o objetivo é o mesmo, conhecer pessoas novas.
Pessoas do cotidiano
Para os adolescentes esse processo já está presente no dia-dia e é muito natural, como explicou uma paciente: “é uma forma de conhecer pessoas do cotidiano, mas de outras bolhas”. A expressão que ela usou ilustra bem a percepção dos adolescentes. Para eles “pessoas do cotidiano” não são estranhos tampouco “predadores” da rede. Como explicou outra paciente “são relações que impactam a gente, como todos os outros amigos. O adulto acredita que seu filho é a única pessoa legal na internet, isso não faz sentido”. Mas faz sentido sim, é uma preocupação tão pertinente quanto o desconhecido que aborda o adolescente no shopping.
Vamos falar sobre o assunto?
Não dá para ignorar que os adolescentes estão online e estão ativos. Então, precisamos falar sobre o assunto com nossos filhos. A seguir seguem algumas dicas que podem te ajudar nesse percurso.
Demonstre interesse e não julgamento
Lembre-se que as relações online são significativas para os adolescentes, então, procure entender mais sobre o universo online em que seu filho transita, peça para ele te contar como as relações acontecem e, ao invés de julgar, discuta sobre os riscos envolvidos, estimule seu filho a pensar junto com você.
Ouça e fique calmo
Talvez o que seu filho te conte sobre o mundo virtual possa gerar desconforto, é importante que você ouça e mantenha a calma, não seja reativo. Queira ouvir e conversar.
Reflexões sobre segurança
Fale sobre o que é ou não seguro compartilhar online. Lembre ao jovem que ele não deve compartilhar informações pessoais e fotos, nem dele nem da família. Converse também sobre os cuidados que ele deve ter para não ser enganado, cair em golpes e fraudes. Ajude seu filho a desenvolver um olhar crítico para que ele consiga identificar conteúdos inadequados.
Garanta a parceria
Pergunte ao seu filho o que ele faria se algo na conversa com o amigo virtual o deixasse desconfortável, chateado ou saísse errado. Assegure que havendo dúvidas ou desconforto quanto ao conteúdo da conversa, ele pode compartilhar com você. Os adolescentes não têm nenhum interesse em conhecer adultos e devem ser encorajados a bloquear usuários que despertem algum estranhamento.
Relações reais
Os amigos virtuais são para os adolescentes tão reais quanto os colegas da escola, do prédio ou do clube. No entanto, sabemos que as habilidades sociais são desenvolvidas e as memórias são criadas no presente, então, estimule seu filho a construir também relações além da tela.
Por fim, você não precisa ser expert da rede tampouco ter toda as respostas sobre este universo. Se sentir dificuldade em lidar com tudo isso ou se perceber que o ambiente virtual é o único em que seu filho se vê inserido, busque ajuda.
Gabriela Azevedo é psicóloga pela PUC-SP, com mestrado em Comportamento do Adolescente pela Faculdade de Medicina da USP, atua clinicamente e como orientadora de carreira.
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