Com a chegada da puberdade, a curiosidade pela sexualidade se torna significativa e, associada à facilidade que se tem atualmente em acessar qualquer conteúdo, pode haver uma exposição muito grande à pornografia.
E aí temos duas perguntas: é natural que filhos adolescentes acessem estes conteúdos ou há riscos emocionais envolvidos? Como os pais devem lidar com esta situação apresentada a eles?
Para começar a falar sobre este assunto, é importante contextualizar a adolescência.
A adolescência e o cérebro em formação
A entrada na adolescência marca um período de muitas transformações: físicas, emocionais e cognitivas. O adolescente busca explorar novidades, ter maior engajamento social e as emoções se tornam intensas. A exploração e a busca pela compreensão da sexualidade fazem parte destas transformações.
Ao mesmo tempo que emoções e novidades estão em ebulição, o cérebro está em seu processo de maturação, que se seguirá até o início da vida adulta. Entre as funções que serão maturadas estão a autorregulação de emoções e o julgamento. O adolescente precisa aprender a controlar impulsos e emoções e a desenvolver o pensamento crítico, e isto só acontecerá com o passar dos anos.
A exposição à pornografia e reações provocadas
Como comentei acima, a exploração da sexualidade faz parte da adolescência e a curiosidade pela pornografia pode acontecer. No passado, o acesso à pornografia se restringia ao momento em que se conseguia ver a Playboy do tio ou do pai, que descuidou ao guardar, ou a uma revista mais picante que algum amigo conseguia na banca de jornal. Atualmente basta entrar na rede para acessar a pornografia, e em todas as suas versões.
O pré-adolescente, e mesmo o adolescente, não tem maturidade cerebral para processar o que veem. São imagens que chocam e se tornam intrusivas para eles. É comum relatarem que “as cenas não saem da cabeça” ou que imaginam pessoas do convívio em cenas que assistiram, e entram em sofrimento.
Um estudo realizado pela NSPCC, na Inglaterra, mostrou que um em cada 5 adolescentes entre 12 e 13 anos teve acesso a imagens de pornografia que o perturbou ou chocou.
Como continuam em processo de formação de identidade e vivendo um período de muita plasticidade cerebral, imagens inadequadas podem deixar marcas na formação da identidade do adolescente.
Consequências
Os conteúdos pornográficos disponíveis na internet é vasto, contemplando inclusive desejos incomuns e requintes de crueldade. Como adultos, conseguimos discernir, julgar e desaprovar. Já o adolescente, especialmente aquele que está no início da adolescência, não tem esse discernimento. E, a partir destas imagens, começam a definir suas referências e preferências.
A preocupação não é apenas com os meninos. A maioria do conteúdo de pornografia é machista e misógino e, com isso, quando as meninas começam a ter relações sexuais, são encorajadas a se submeterem a situações que não gostariam. E como não têm recursos emocionais para irem contra, aceitam e se sentem abusadas. Ao questionarmos os meninos porque tratam as meninas desta maneira, não é raro ouvirmos que “eu vi que é assim que as mulheres gostam de ser tratadas”.
Não só as referências se tornam equivocadas para meninos e meninas, como a pornografia pode se tornar um vício para o adolescente pois, lembremos, ele ainda não tem controle emocional. E como todo vício, o que antes satisfazia, agora não satisfaz mais. Ou seja, o adolescente se acostuma com imagens e práticas que antes geravam repugnância, e passa a buscar conteúdos cada vez mais fortes para satisfaze-lo. De acordo com o psiquiatra canadense Norman Doidge, a consequência do consumo frequente de pornografia seria a perda do prazer nas relações sexuais reais e sadias*.
Como ajudar?
· O primeiro passo é pais e mães não acharem natural um adolescente acessar conteúdos que não são adequados à sua idade.
· Estabelecer um diálogo aberto e com respeito é super importante. Converse com o adolescente e explique por que não é saudável para ele acessar conteúdos inadequados. Vale ter esta conversa com todos os adolescentes, mesmo com aqueles que ainda não tiveram contato estreito com a pornografia. Estabeleça diálogos saudáveis em que se consiga falar com naturalidade sobre sexualidade e assuntos pessoais.
· Ajude o adolescente a desenvolver o controle de impulsos, como estimula-lo a postergar recompensas ou estabelecer objetivos. Ele deve compreender que a satisfação não precisa ser imediata para ser prazerosa.
· Estimule outros interesses que mobilizem a atenção do adolescente.
· Não tenha receio em dizer não aos filhos. Ser permissivo contribui para a formação de indivíduos mais frágeis e sem senso crítico. Ao advertir o filho, explicar as razões e ponderar com ele porque está dizendo não, os pais estão contribuindo para que seu filho tenha criticidade em relação as situações vividas e, inclusive, aos conteúdos acessados.
· Se estiver difícil lidar com a situação, busque ajuda de um profissional.
*Gabriela Azevedo é psicóloga pela PUC-SP, mestre em Comportamento do Adolescente pela USP, especialista em adolescência e desenvolvimento socioemocional.
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